Imaginem essa situação: uma sala de aula, com o professor sentado em sua mesa, folheando um livro, enquanto os alunos, diante dele, copiam silenciosamente a lição. Ou ainda: o professor permanece sentado, mas falante, enquanto os alunos se mantêm calados, talvez atentos. Provavelmente, qualquer ruído que interrompa esse quadro será cortado com um pedido – talvez suave, talvez severo, mas sempre com vigor – de “silêncio!” por parte do professor. Essa é uma imagem antiga de uma sala de aula e que eventualmente pode persistir em algumas de nossas escolas. Mas não deve ser o que predomina. Não pode ser o que predomina.
O aprendizado não supõe mais uma fonte única, da qual emana todo o saber, mas, ao contrário, ele se realiza de forma mais intensa quando envolve outras fontes de conhecimento, venham elas de recursos tecnológicos ou de outras vozes de alunos que debatem, discordam, discutem.
E ela deve ser respeitada exatamente na medida em que é uma voz entre outras. Contudo, apesar dessa igualdade intrínseca, há algo de diferente e de particular nessa voz. Quando o professor abre sua boca, o som que sai dali é o som do tempo. Os alunos têm as vozes do agora, do momento presente, do aqui, do instante, da pressa em dizer e da vontade de se fazer ouvir. O professor traz consigo um saber que é ancestral. Vem dele próprio, e de seus estudos, mas também vem de um tempo além dele próprio, de outros que estudaram antes dele, de descobertas consolidadas e que sempre se atualizam quando são trazidas à discussão.
Em uma escola, essa voz do tempo precisa ser ouvida tanto dentro quanto fora da sala de aula. É fácil entender como ela deve ser ouvida dentro da sala de aula: os alunos devem seguir turnos de falas de professores e colegas, porque todos devem ter a sua vez. E a sua voz.
Esse espaço de fora tem duas dimensões. Primeiro: na própria escola, onde a voz do professor deve ser ouvida com atenção, porque a sala de aula é o centro de tudo o que acontece naquele lugar.
A segunda dimensão desse espaço de fora é o que está além dos limites da própria escola. A voz do professor precisa ecoar para além da aula.
O caminho para isso acontecer pode ser sintetizado assim: o professor com liberdade e autonomia para ensinar ensina com prazer; ensinando com prazer, sua aula se torna inesquecível para os alunos; como os aluno não se esquecem da aula, comentam com os colegas e com os amigos de fora da escola, todos os dias e por muitos dias. Aqui, começam os comentários: naquela escola, os professores são excelentes, as aulas são ótimas!